Saturday, April 28, 2007

Impulsos

Tenho andado esquisito. Basicamente, sinto cada vez mais que faço um esforço constante para ser equilibrado, justo, correcto e blá, blá... Tudo porque as pessoas gostam mais assim, porque é mais agradável, porque não ficam a dizer: «qual é o problema deste??», porque não ficam alarmadas e tentam ajudar (e Deus sabe que não quero que tentem!), porque não começam a evitar-me (não, não gosto de ser evitado), porque assim posso ter uma vida social dita normal. Mas eu ando a fazer demasiado esforço para isso!!! Controlo-me tanto que me apanho muitas vezes com ganas de esmurrar pessoas desconhecidas, e isso inclui crianças e velhinhas, só porque não gosto que estejam a falar, quando quero silêncio. Não quero mais conter-me, não é saudável conter-me, ainda acabo por fazer mal a alguém. Não quero ser aparentemente normal, quero agir e reagir como me der na gana e quero que as pessoas de quem gosto me aceitem assim mesmo. Afinal, são bem pagas.

O egoísmo das pessoas choca-me: se toda a gente só pensar em si, quando é que pensa em mim?

Saturday, March 31, 2007

Ciência às massas

Diálogo esta manhã com a minha mãe. Mãe:

- Mas as vitaminas são, por natureza, o quê?
- São coisas muito diversas.
- E por que têm o mesmo nome?
- Porque [...blá, blá...], e têm funções semelhantes.
- Mas elas têm alguma composição química? (!) São partículas com uma estrutura complicada?
- São moléculas bastante grandes... (tipo, com mais de 10 átomos...)
- Ai são moléculas??

Saturday, March 24, 2007

Não sei blogar

Não consigo ter ideias para pôr num blogue. Convenhamos, um blogue não é para autistas. As coisas que se blogam devem ter interesse para os outros, de preferência para aqueles outros que de outra forma nunca no-las teriam ouvido, e não os mesmos outros de sempre a quem comunicamos oralmente os resultados do nosso onanismo intelectual do dia, ejaculados anteriormente para o lençol de um blogue. Se já falamos diariamente com as pessoas que nos poderão ler, que sentido tem estarmos a escrever?
- Olha o que bloguei hoje: blá-blá-blá... (5 min depois) Já leste?
- Já, tá giro! Comentei assim: blé-blé-blé...
Ou então:
- Não, ainda não li...
- Então, hás-de ler!

Duhhh... Agora, ideias que vale a pena blogar são as que perfeitos estranhos gostarão (ou detestarão, que muitas vezes isso sabe melhor) de ler e comentar. Mas daí, isso mais vale editar em livro, sempre pagam honorários, fica para a posteridade, começa-se a aparecer na TV, a escrever crónicas nos jornais, a ser solicitado para mandar umas bocarras, enfim, é divertido! Agora, blogues? Perda de tempo.

Thursday, March 08, 2007

8 de Março

Não podia ter deixado de celebrar esta maravilhoso dia, o Dia das Gajas. Parabéns, meninas, vocês são e sempre foram lindas, continuem assim!

Frase do dia

Acabei de ouvir esta no DanceTV, na SIc Radical (23h52): «Das 23 letras do abecedário, porquê W?» - pergunta de uma jornalistazinha estagiária, coitadita...

Saturday, February 17, 2007

Feito!

Nem posso acreditar que este malfadado doutoramento está feito! É incrível: stressa-se muito nos dias anteriores, quase não se stressa nada na véspera, volta-se a stressar no próprio dia, anda-se muito tenso, tentando manter a compostura, tentando não esquecer nada de importante em casa na altura de ir para a Reitoria, tentando conduzir com calma para lá (quase como quem só pensa em chegar lá vivo, que depois podemos morrer à vontade), chega-se muuuuito antes da hora, testa-se a aparelhagem toda (muitas vezes tudo deve funcionar bem à primeira, penso eu...) e espera-se, e as pessoas vão chegando, e espera-se ainda, e chegam mais, e espera-se ainda mais um pouco. É o Antes.

Lá dentro, gela-se perante o júri de becas pretas, fica-se sentado como se se tivesse um taco de bilhar na coluna e como se a cadeira estivesse a ferver, depois salta-se de lá, faz-se em modo automático a apresentação tão ensaiada, depois há a trapalhada com as luzes, o projector, o tampo do portátil... Começa a discussão - este(a) deve estar a querer lixar-me - mas onde foi ele(a) buscar essa ideia? - e não se cala! - é pa responder ou quê? - ah, pera aí, que eu já te f*** - e irritamo-nos, e respondemos, e discutimos, e de repente começa a parecer que afinal sabemos alguma coisa, e depois o primeiro acaba, e vêm outros, e discutimos com eles, e finalmente as palavras finais, e o júri vai reunir, e somos expulsos da sala. Lá fora, os colegas, os amigos, a família - a mãe saiu três vezes da sala, à terceira foi de vez, só agora sabemos disso -, o fotógrafo omnipresente, todos a falarem connosco, nós à rasca, qeu ainda não acabou, à espera. Chamam-nos. Lá vamos. Ouvimos o presidente: o júri... deliberou... aprovar... É o Durante.

E cumprimentos, felicitações, desejos do maior sucesso, mais fotos, e saímos com o presidente que repete aquilo aos que esperam, e palmas, e fotos, e prendas, e falamos com toda a gente, e... e começou assim o nosso Depois, o nosso Para Sempre. E já não se sabe exactamente o que aconteceu Durante - talvez um sonho, talvez um lapso no tempo.

Está feito.

Sunday, February 11, 2007

Sim

E pronto, ganhámos. Por uma margem estreita, com muita abstenção, mas ganhámos. Tanta abstenção, no entanto, continua a ser uma grande vergonha nacional. Seja por falta de opinião, por medo de assumir responsabilidades, seja por não se achar o referendo importante, seja por preguiça - qualquer motivo é bastante mau. Em Bornes de Aguiar, distrito de Vila Real, houve apelo e grande adesão à abstenção - porquê? - em protesto por não terem GNR!

Parabéns aos que acreditaram que as coisas podiam melhorar; cumprimentos a todos os que votaram; espero que da próxima vez mais pessoas tenham opinião e a achem suficientemente importante. Poder ao povo, desde que o povo seja capaz de assumir o poder.

Friday, February 09, 2007

Hoje

...a «eumesma» tornou-se Doutora «eumesma»! Parabéns!!

Tuesday, February 06, 2007

Dedicado ao g

«Sabe Deus – pensava eu –, se conseguirei alguma vez encontrar trabalho!» Tinham sido tantas as recusas, as meias-promessas, os «nãos» decididos, as esperanças nutridas e enganadas, tantas novas tentativas que sempre davam em nada que já tinha perdido todo o ânimo. Finalmente, tinha tentado ir para tesoureiro, mas chegara tarde; além disso, nunca poderia dar a caução de cinquenta coroas. Também me tinha voluntariado para o corpo de bombeiros. Éramos uns cinquenta lá perfilados, cada um a fazer peito para parecer um fortalhaço e um grande valentão. Recrutador andava no meio de nós, examinando os candidatos, apalpando os músculos, interrogando, e, ao passar por mim, só abanou a cabeça e disse que pessoas com óculos não serviam para o trabalho. Voltei a ir lá já sem os óculos e estava de testa franzida, tentando que o meu olhar parecesse ter a acuidade de uma faca, mas ele passou de novo por mim e apenas sorriu, porque me tinha reconhecido. Para cúmulo de todos os meus males, a minha roupa estava já tão gasta que os empregadores não me viam como homem decente.
Como era lenta e fatal a minha queda! Acabei por não ter posses nenhumas, nem mesmo um pente ou um livro que me consolasse nos momentos difíceis. No Verão ia todos os dias ao cemitério ou ao parque do castelo, sentava-me lá e escrevia artigos para jornais, coluna atrás de coluna, e não havia coisa que aqueles artigos não tivessem, quantas maravilhosas invenções, caprichos, devaneios da minha fantasia irrequieta! Em desespero, pegava nos temas mais abstractos, redigia os artigos durante muitas horas dolorosas, e ninguém queria publicá-los. Tendo terminado um, começava logo a escrever outro e raramente desanimava com a rejeição dos redactores. Tentava convencer-me de que um dia ia ter sorte. E realmente, por vezes, quando a fortuna me sorria e eu conseguia compor algo de jeito, pagavam-me cinco coroas pelo trabalho de metade de um dia.
Afastei-me de novo da janela, fui ao lavatório e molhei os joelhos das minhas calças coçadas para que parecessem pretos e ficassem com ar mais novo. Depois, como era hábito, meti no bolso o papel e o lápis e saí do quarto. Desci as escadas em bicos de pés para não chamar a atenção da senhoria; o prazo de pagamento da renda tinha acabado vários dias antes, e eu não tinha com que pagar.
Soaram as nove. O estertor das carruagens e as vozes da gente enchiam o ar – era o coro matinal das cem bocas, acompanhado pelos passos dos peões e pelos estalidos dos chicotes dos cocheiros. Aquele movimento ruidoso animou-me de imediato, e comecei a sentir-me mais seguro. O que menos tencionava era passear assim no ar fresco da manhã. De que serviria o ar aos meus pulmões? Sentia-me invencível como um colosso, podia travar uma carruagem com o ombro. Uma sensação incrível, maravilhosa, uma luminosa satisfação invadiu-me. Observava os transeuntes, apanhava no ar os olhares que alguém me lançava das carruagens que passavam a voar, reparava nos mínimos pormenores sem deixar escapar nenhuma infimidade casual que se me deparava para logo desaparecer.
Que lindo dia, faltava só poder comer alguma coisa!

Excerto de Fome de Knut Hamsun,
tradução minha a partir da tradução russa

Saturday, February 03, 2007

No outro post

eu tinha citado uma coisa que ouvi numa série televisiva, mas desconfiava ter origem shakespeariana. Acertei. Era uma paráfrase, mas o essencial está lá, embora com o sentido oposto.

SONNET 116

Let me not to the marriage of true minds
Admit impediments. Love is not love
Which alters when it alteration finds,
Or bends with the remover to remove:

O no! it is an ever-fixed mark
That looks on tempests and is never shaken;
It is the star to every wandering bark,
Whose worth's unknown, although his height be taken.

Love's not Time's fool, though rosy lips and cheeks
Within his bending sickle's compass come:
Love alters not with his brief hours and weeks,

But bears it out even to the edge of doom.
If this be error and upon me proved,
I never writ, nor no man ever loved.

William Shakespeare

Friday, January 26, 2007

Love alters

when it alteration finds...

Sunday, January 21, 2007

Eu acho

que, se as coisas fossem feitas como deve ser, os homens não deviam participar no referendo sobre a despenalização do aborto. Mas, como o «Não» vai, com certeza, ter uma boa participação masculina (padres!), eu vou votar. No «SIM».

Saturday, January 20, 2007

Gostamos da vida...

...porque os bons momentos compensam os maus ou porque esta vida é a única que temos (conhecemos)?

Sunday, January 14, 2007

Lembram-se da minha árvore de Natal?




A coitada começou a perder folhas (aquelas agulhas) e a dar sinas de ir dar o berro muito em breve. De modo que no dia 10 de Janeiro tirámos-lhe os enfeites e fomos plantá-la numa mata próxima. A árvore anterior, à qual foi dado o mesmo destino, foi desenterrada e levada por alguém para parte incerta... Esta plantámo-la num lugar mais discreto, a ver como se safa!

Friday, January 05, 2007

Para me juntar ao coro

...Eu também tenho um doutoramento para discutir a seguir! A seguir significa que há-de ser num dia que se seguirá ao dia que virá antes, que se seguirá ao anterior, que se seguirá à sua véspera... Sim, foi um enorme alívio ter entregue a tese no dia 7 de Setembro de 2006, e esse alívio manteve-se até à altura em que a fase entre-a-entrega-e-a-discussão começou a tornar-se aborrecida... depois, o alívio deu lugar à ansiedade mista de quero discutir já/quero ter tempo para preparar a iscussão, e essa - à pura e simples impaciência.

Principalmente porque o que eu quero mesmo e tão-só é ver-me livre de vez desta fase da minha vida. Foram seis anos que começaram com insistências impacientes dos «chefes» para que decidisse se ia lá ficar ou não (isso sem conhecer mais nenhum sítio), continuou com um dos chefes a ser rejeitado por mim, e a outra (a mais chefe) a desistir do laboratório, passando-o ao chefe pequeno. De modo que fiquei no Grupo, mas não tinha nada a ver com o Grupo. Com todas as consequências. Eu sei que outra pessoa mais desenrascada ter-se-ia desenrascado no meu lugar, mas eu não sou essa pessoa; e afinal, era apenas um aluno de doutoramento: precisava de orientação. Não a tive. Tal como não tive acesso a muito do material de que precisei, porque não era prioritário para o Grupo, tal como nem sequer se gastou comigo a maior parte do financiamento da FCT associado à minha bolsa, que ainda foram €11 000 ao todo, que sim, disso o Grupo precisava, agradecia muito.

Recentemente, quando estava com a chefe a ensaiar a apresentação da tese para o dia da discussão, mencionei-a nos agradecimentos finais. Comentário dela: «Ah, diga só o nome; senão, agradece porquê? Pelo que tive de aturar?» Ai, ela é que teve de me aturar?? Acho que perdi uma oportunidade única de responder a aquilo...

Quero que acabe. Quero passar à rasca, mas quero que acabe.

Sunday, December 24, 2006

Uma canção de Natal

Após uma bela ceia de Natal (jantar, pela hora a que se deu), sob o efeito de boa comida, vinho alentejano e vodka moscovita, lembrei-me, a propósito desta linda quadra, de um poema ou, antes, versão de canção de Natal escrita pelo defunto Rui (não me recordo do apelido), estudante de Informática da FCUL que, tendo embora algum talento, sofria de uma paixão quase doentia por armas de fogo, a qual acabou por lhe custar a vida numa sessão de «roleta russa» consigo próprio numa sala da Associação de estudantes da FCUL em 2002... Pelo menos, penso que o autor é ele, estava no Improp (órgão da AE). É uma cantiga natalícia cantada pelos duendes ao serviço do Pai Natal:

Ho, ho, ho, fu**ing ho,
What a crop of sh*t!
We all work for Santa Claus,
We've had enough, we quit!

We get all the work
While he stares at the snow.
Stick your Christmas up your a*s,
Ho, ho, ho, fu**ing ho!

Os asteriscos são para não haver censura, pelo sim, pelo não. Ele não os tinha.

Wednesday, December 20, 2006

A minha árvore



Cá em casa já montámos a nossa árvore de Natal. Como é costume na Rússia, trata-se de um «abeto-do-norte», Picea abies. Pica mais do que os pinheiros, mas o aspecto, o aroma, tudo é diferente.

Histórias do pessoal de letras

Acho que toda a gente devia aprender a falar e escrever correctamente na sua língua-mãe, no caso de portugal, o português de Portugal. Acho mesmo que deveria ser uma das disciplinas escolares a que se desse mais ênfase e que, mesmo nos exames de outras disciplinas, na escola e nas faculdades, o português devia ser avaliado.

Mas também penso o mesmo de algumas disciplinas «técnicas». A matemática é uma delas. Trata-se da base do raciocínio lógico que falta a tanta gente! Ensiná-la mais e, sobretudo, melhor! Outras matérias que deviam fazer parte da cultura geral são, inevitavelmente, a química e a física (ter uma ideia de que é feito e como funciona este mundo) e a biologia (a vida, pá, todos fazemos parte dela!).

Senão, acontecem coisas destas. O meu padrasto muito chocado, quando lhe disse que, depois de se abrir um leite pasteurizado, já havia bactérias lá dentro. Há uns tempos a minha irmã, com uns 16 anos, a descobrir que um frango (guisado) só tinha 2 pernas, e não 4 (ok, aprender a cozinhar também teria ajudado). Finalmente, a mesma um destes dias a chamar-me em pânico para expulsar um bicho do quarto dela: «pá, é uma aranha, mas voa!» (wow).

Nós também tentamos falar e escrever correctamente, pá... Cultura geral, amigos, aprendam alguma coisa...

Sunday, December 17, 2006

Manias psicótico-depressivas

Várias manias tem este simpático povo que é o português. Mania de deixar tudo para a última da hora, mania do desenrasca, mania de só visitar sítios célebres por alguma confecção da gastronomia local, mania de se meter na vida dos outros... tantas, enfim! E também a mania das depressões. O que é muito curioso. Os próprios portugueses costumam ter a mania (aí está) de que nos países nórdicos, ai, lá o clima é tão frio, o sol é tão pouco, eles lá devem andar sempre todos deprimidos, já nós não, nós cá somos gente alegre... No entanto, de todas as pessoas que conheci melhor cá em Portugal uns 70% devem ter alguma tendência para ficarem «deprimidos». Quer dizer... gostam de pensar (e sobretudo, dizer!) que têm depressões, isso sempre que algum problema lhes aparece.

Ora! Se temos um problema, é normal ficarmos furiosos, cansados, frustrados, fartos de tudo, até é normal ficarmos temporariamente desesperados até o cérebro reagir, agora, depressões não são normais. As verdadeiras são sintoma de doenças. As outras, as mais banais, aquelas dos 70%, essas são simplesmente birras. Recusa de aceitar a realidade, de fazer alguma coisa para a mudar e de esperar que as coisas melhorem. Uma não-solução. E um doentio prazer masoquista de ficar deitado de papo para o ar em autocomiseração, não atendendo as chamadas para que a impressão de que ninguém gosta de nós fique mesmo convincente.

Irrita-me muito ouvir pessoas jovens, saudáveis, inteligentes, eruditas, comprovadamente competentes e rodeadas de amigos e família dizerem que estão deprimidas. Tentem não ir por esse caminho!

Sunday, December 03, 2006

O Resmunga - oléééé!

Fico espantado com o poder que o futebol tem sobre as nossas vidas. Entendam-me bem: não se trata do desporto futebol - aquele jogo de equipa com 11 jogadores de cada lado, um dos quais o guarda-redes, uma bola esférica que se joga só com os pés ou com a cabeça, a menos que o jogador seja um guarda-redes, e duas balizas em que se tenta meter a bola (o chamado golo, quando se trate da baliza adversária) e que são defendidas também pelos guarda-redes; e tembém tem um árbitro e blá, blá, blá... Pois, não é esse futebol. Estou mais a falar do jogo de troca de insultos e acusações de vários graus de falsidade entre: dirigentes, treinadores, claques e adeptos ordinários de clubes diferentes, onde se metem de vez em quando organismos desportivos nacionais e internacionais, normalmente do lado de um dos clubes, e que se tem tornado o verdadeiro desporto-rei do país.

O seu poder é verdadeiramente de pasmar: se apenas as pessoas de parcos recursos intelectuais e culturais (instrução: 4ª classe + 45 anos de conversas de tasca; ocupação: pequeno comerciante; entretenimento: bisca, sueca, dominó) se deixassem avassalar por aquela força, sentir-me-ia até muito contente por terem uma satisfação na vida, uma fonte de emoções que as premiasse de vez em quando com uma pequena vitoriazinha, enfim, algo que não as deixasse pensar, ao morrerem, que a vida passou em vão. O problema é que a dita cuja força não é exactamente uma caridade para os mentalmente pobres. O que verifico é que todos os estratos sociais sem excepção estão contaminados. Senão, vejamos: a única coisa que a maioria sabe ao certo sobre qualquer político de topo é o clube de futebol de que é adepto, não sem implicações para os resultados eleitorais - quer dizer que isso faz parte integrante da tão cuidada imagem de cada candidato. Vejo também pessoas com altos graus académicos, capazes de discutir longa e argutamente assuntos complexos dentro e fora da sua especialidade, de repente ficarem possuídas por ocasião de cada encontro Porting-Benvista que ocorre e começarem a vomitar baboseiras como quem comeu «Quinta das celebridades» em demasia ao jantar. Benfiquistas que afirmam que o cântico preferido dos do Sporting é «SLB, SLB... - filhos da puta, SLB!!!», sportinguistas que gostam de um certo monumento na cidade do Porto por ter um leão a dar uma coça a uma águia... todos a afirmarem em coro que o seu clube é sempre prejudicado, porque os árbitros estão todos comprados pelos outros... E o mais espantoso é que qualquer profesor catedrático fica, nessas ocasiões, totalmente indistinguível do Manel do talho. Só gostava mesmo de saber se existirá algures no país uma classe secreta que nos controla a todos através deste indiscutível vírus ou se toda a nação (quem sabe, o género humano) foi contaminada com ele por alguma civilização extraterrestre hostil. Fica a pergunta para os estudiosos!

Friday, December 01, 2006

Estreia. Apresentação

Uma espiral fechada é uma figura bem conhecida de quem, como eu, muitas vezes apanha os seus pensamentos a seguir trajectórias dessa geometria. Enfim, isso é quando o destino nos abençoa com uma inesperada oferta em forma de pensamento de qualquer espécie no meio da habitual existência subcartesiana.

Esse, o Descartes, é que estava bem... Pôs em causa o ser e provou-o com base na evidência do pensar. Então, e pôr em causa o pensar era muito à frente? «Je ne pense que des conneries, donc... duhhh...»